30 de outubro de 2024

IMPERATRIZ NÃO É SÃO LUÍS E O MARANHÃO NA SUA HISTÓRICA/ GEOGRÁFICA/ TOPOGRÁFICA FORMA POLÍTICA/ ELEITORAL É MAIS COMPLEXO

Os inexperientes picados pela mosca azul - aspiração de glória/ poder bem idealizada no poema de Machado de Assis  - costumam avaliar sua dimensão pessoal nos resultados imediatos após as eleições/ esquecendo a dimensão geográfica/ conjuntura política passada/ presente/ futura.

Foi justamente isso o que aconteceu com Eduardo Braide. Picado pela "mosca azul" achou que em Imperatriz  teria a extensão política de São Luís/ saiu do casulo em articulação equivocada com a extrema direita mecanizada bolsonarista/ que acumula derrotas em eleições no Maranhão. 

Eduardo Braide derubou a possibilidade de fazer ponte benéfica para o Maranhão/ com Brandão/ Lula. Erro que pode ter tirado vaga para o Senado/2026/ bem como de chegar tranquilamente ao governo em 2034/ articulado com o grupo de Carlos Brandão nas sucessões 2026/ 2030/ 2034.

Braide articulado com Brandão teria a seu favor a cronologia das eleições - Senado/ Governo 2026 - das futuras sucessões 2026/2030/ 2034. Oriundo da mesma placenta política/ cacifado eleitoralmente era esperar como senador as sucessões. Braide fatalmente chegaria ao governo em 2034.

Jackson Lago/ três vezes prefeito de São Luís sabia que para chegar ao governo precisava da ponte com o governador(a). Não deu certo com Roseana/ deu com Zé Reinaldo. O racha Roseana Sarney/ Alexandra/ a "Grande" garantiu a eleição de Lago. Esse foi o fato que mudou o momento.

Lobão fortíssimo em Imperatriz/ Sul do Maranhão/ para ser governador esperou o convite de Sarney/ ante o desgaste da candidatura de Sarney Filho / devolvendo o bastão  para Roseana/ que garantiu com a usurpação do mandato de Jackson/ mais 15 anos de  comando ao grupo Sarney.  

O Maranhão na sua histórica/ geográfica/ topográfica forma político/ eleitoral é mais complexo. O ciclos do comando ora aritiméticos ora geométricos - Benedito Leite (10 anos); Vitorino( 24 ); Sarney 48; Dino (8) - não foram por acaso/ aconteceram na esteira das avaliações/ procedimentos políticos.

A Geografia Eleitoral do Maranhão alterou um pouco sua topografia de comando - o suficiente esperar a verdadeira mudança . O poder regional/ municipal/ paroquial caracterizado na troca do 6 por meia dúzia começa a ter diferenciada alternância. Mudando em baixo muda em cima. Esse processo que já ocorreu entre 1920/ 30 é lento/ mas irreversível.

A articulação política é arte/ depende da avaliação/ da visão dos protaganistas que precisam enxergar além do aparente. O erro pode ser fatal. Dissimular - ocultar a intenção de chegar ao poder - é a principal arte política. A picada da mosca azul deve ser sempre evitada. Temos vários exemplos de políticos "mosca azul" que passam/ passaram no Senado.

A MOSCA AZUL( MACHADO DE ASSIS)

Era uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Indostão,
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada,
Em certa noite de verão.

E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua, — melhor do que refulgiria
Um brilhante do Grão-Mogol.

Um poleá que a viu, espantado e tristonho,
Um poleá lhe perguntou:
“Mosca, esse refulgir, que mais parece um sonho,
Dize, quem foi que to ensinou?”

Então ela, voando, e revoando, disse:
— “Eu sou a vida, eu sou a flor
“Das graças, o padrão da eterna meninice,
“E mais a glória, e mais o amor.”

E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo,
E tranqüilo, como um faquir,
Como alguém que ficou deslembrado de tudo,
Sem comparar, nem refletir.

Entre as asas do inseto, a voltear no espaço,
Uma cousa lhe pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço
E viu um rosto, que era o seu.

Era ele, era um rei, o rei de Cachemira,
Que tinha sobre o colo nu,
Um imenso colar de opala, e uma safira
Tirada ao corpo de Vichnu.

Cem mulheres em flor, cem nairas superfinas,
Aos pés dele, no liso chão,
Espreguiçam sorrindo, as suas graças finas,
E todo o amor que têm lhe dão.

Mudos, graves, de pé, cem etíopes feios,
Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios,
Voluptuosamente nus.

Vinha a glória depois; — quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e o parabéns unidos
Das coroas ocidentais.

Mas o melhor de tudo é que no rosto aberto
Das mulheres e dos varões,
Como em água que deixa o fundo descoberto,
Via limpo os corações.

Então ele, estendendo a mão calosa e tosca,
Afeita a só carpintejar,
Como um gesto pegou na fulgurante mosca,
Curioso de a examinar.

Quis vê-la, quis saber a causa do mistério.
E, fechando-a na mão, sorriu
De contente, ao pensar que ali tinha um império,
E para casa se partiu.

Alvoroçado chega, examina, e parece
Que se houve nessa ocupação
Miudamente, como um homem que quisesse
Dissecar a sua ilusão.

Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela,
Rota, baça, nojenta, vil,
Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquela
Visão fantástica e sutil.

Hoje, quando ele aí vai, de áloe e cardamomo
Na cabeça, com ar taful,
Dizem que ensandeceu, e que não sabe como
Perdeu a sua mosca azul.

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