8 de outubro de 2023

LUTO NA IMPRENSA : MORRE O JORNALISTA ANTÔNIO CARLOS LIMA E LEVA COM ELE O ESTILO INTELIGENTE/ LIMPO/ OBJETIVO

Faleceu na tarde deste domingo(8) o jornalista Antônio Carlos Lima / destaque da geração nascida nos anos 50/ com notável atividade profissional nas décadas seguintes/ razão pela qual tornou-se com inegável mérito membro da Academia Maranhense de Letras.



Discreto/ pacífico/ equilibrado/ preparado/ culto/ inteligente não brigava/ tratava com urbanidade aqueles que dele discordavam. Como jornalista tinha estilo inteligente/ limpo/ objetivo/ usava bem dosadas expressões maranhenses como exemplo : "Então tá" - "eu não acredito".


Um mestre/ tendo domínio da gramática normativa/ descritiva/ histórica/ comparativa. Estilo inteligente/ limpo/objetivo com rara capacidade do uso da linguística/ explorando significante/ significante com maestria nos trechos jornalísticos que levam o leitor a raciocinar sobre os fatos narrados.


Antônio Carlos Lima/ o "Pipoca" era apaixonado por "Álvaro de Campos"/ heteronônimo de Fernando Pessoa. Uma vez reunidos no "Bar da Tia Naná"/ na Ponta D'Areia declamei "Tabacaria". Pipoca adorava alguns trechos desse poema existencial em contrário a sua vida bem sucedida. 

Antônio Carlos Lima fez de si com saber

E o que não pode fazer a sua existência o fez

Vestiu-se correto

Fez-se conhecido pela coerência/ inteligência

Não usou máscara/ nem embriagou-se ou perdeu-se

Foi sublime/ exemplar

Adeus Pipoca/ vai sem metafísica/

ficam as epifanias

representas a boa irmandade do nosso tempo


Tabacaria


"Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo

E vou escrever esta história para provar que sou sublime. 

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

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